Descobrindo os labirintos do que chama de ""neurose de coerção"", fascinado pela complexidade dos processos de pensamento que ela põe em jogo, Freud rende homenagem à inteligência de seus dois pacientes, aos quais a psicanálise deve tanto, o Homem dos ratos e o Homem dos lobos. Embora faça dessa neurose o dialeto cuja língua materna seria a histeria, ele no entanto a apresenta como o campo privilegiado da investigação analítica futura. Expõe as fantasias de onipotência, a compulsão, a repetição e os mecanismos de defesa tão particulares dessa estrutura, mas a motivação última dela lhe resta enigmática, porque ele não concebe que a mãe possa odiar sua progenitura. Contrariamente às idéias recebidas, o obsessivo não visa à morte do Outro, mas à sua, tanto mais porque ele é um outro - objeto e não sujeito - designado para ocupar para sua mãe o lugar de um ideal instrumento a manipular, do falo que ele não quer ser. De onde o impossível de seu desejo e seu encarniçamento que não é masoquista, mas auto-sádico. A ambivalência da mãe com relação a seu filho, o relativo descrédito no qual ela mantém o pai, tal é a chave de abóbada desse equilíbrio infernal que, para que o sujeito se assegure sempre de sua própria reserva de poder, obriga-o a erigir barreiras contra uma mãe exigente que primeiro o adorou e depois o humilhou. Sem ser agressivo, mas com todas as defesas prontas, a que ele se recusa? A ser objeto do gozo da mãe. A sombra de um pai, considerado como incapaz de satisfazê-la, protege o obsessivo para que ele nunca caia na psicose: ninguém mais do que ele se prende à letra, à pequena diferença, testemunhando a existência da lei. Pela reflexão sobre seus próprios casos e graças aos conceitos herdados de Lacan - o Outro, o gozo, o impossível, o esvaecimento do sujeito -, Denise Lachaud reorienta com clareza o olhar para a clínica freudiana dessa neurose, numa obra que conclui sobre essa questão.(leia o primeiro capítulo)
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