Historiografia, crítica textual e estudos bibliográficos articulam-se nos 12 ensaios que compõem esta obra para produzir uma arqueologia do processo editorial e mostrar que "a mão do autor" e "a mente do editor" sempre estiveram unidas. Roger Chartier analisa o processo de continuidade e descontinuidade da palavra escrita, de Gutenberg à invenção do conceito moderno de literatura, oferecendo significativa contribuição para a atual reflexão sobre a história do livro. Um dos objetivos básicos do volume, ele escreve, é alcançar melhor compreensão de elementos concorrentes na história, como as figuras e fórmulas que governam os textos ficcionais: "Obras de ficção - ou pelo menos algumas delas - e a memória coletiva ou individual davam ao passado uma presença que com frequência era mais forte do que aquela que os livros de história podiam fornecer". Daí a ênfase do livro em obras maiores de literatura, que ao longo dos séculos funcionaram de modo a talhar maneiras de pensar e sentir. O autor busca recolocar textos como Dom Quixote e peças de Shakespeare dentro de seus próprios contextos, diferentes do atual, recuperando o modo como foram originalmente criados, encenados, publicados e apropriados. Tal preocupação justifica-se porque, de acordo com Chartier, as obras sempre sofreram impactos do trabalho de uma série de pessoas envolvidas com o processo de edição e impressão. Dos escribas do início da Idade Moderna, que transcreviam os originais do manuscrito do autor, aos censores que autorizavam a publicação, editores e revisores que preparavam e corrigiam o texto para a impressão. Em diálogo com autores como Braudel, Febvre, Ricoeur e Freud, Chartier analisa esses processos, buscando os rastros que eles deixaram depositados sobre as obras no decorrer da História. E, ainda, o modo como contribuíram para a constituição do cânone literário e a noção de autoria nos séculos passados.
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