O íntimo relato do mundo repleto de riscos do que alguns chamam de Máfia. Assim é Os Bons Companheiros, livro de não ficção escrito por Nicholas Pileggi, publicado originalmente em 1985, e base para o clássico filme dirigido por Martin Scorsese em 1990. Nele, acompanhamos a história de Henry Hill, nascido no Brooklyn, em Nova York, com mãe de origem siciliana e pai de descendência irlandesa, que já aos doze anos passa a integrar uma gangue de mafiosos da vizinhança como garoto de recados. Pileggi reconstrói a vida e trajetória de Hill com o bando controlado pela família Lucchese — considerada a mais poderosa das cinco famílias mafiosas originais da cidade — em detalhes fascinantes e brutais, em uma narrativa permeada de violência, loucuras, golpes e seu conhecido código de honra.
O protagonista esteve envolvido no dia a dia da família mafiosa por quase três décadas, até 1980, quando foi preso sob acusação de tráfico de drogas. Com o risco de encarar uma longa prisão, sem falar na possível execução por seus ex-chefes, Hill entrou para o Programa Federal de Proteção à Testemunha, delatou seus antigos colegas e ajudou a enviar dezenas de pessoas para a prisão. Aproximou-se então do jornalista Nicholas Pileggi, conhecido pelo trabalho de três décadas cobrindo o mundo do crime organizado e da Máfia, para relatar a sua história.
“Um ano após a prisão de Henry Hill, fui procurado por seu advogado, que disse que Hill queria alguém para contar sua história. Àquela altura eu já havia escrito sobre figuras de destaque do crime organizado ao longo da maior parte da minha carreira de jornalista e desenvolvido um enorme tédio com os delírios egoicos de bandidos analfabetos travestidos de generosos ‘Poderosos Chefões’. Além disso, eu nunca tinha ouvido falar em Henry Hill”, afirma Pileggi no Prólogo do livro. Assim começa a história que resultou em Os Bons Companheiros, um olhar interno a respeito de um mundo sobre o qual normalmente ouvimos falar, no máximo, apenas do lado de fora ou por meio dos chefões. “
Na obra, além de conhecer como funciona a organização criminosa a partir de alguém com acesso incomum a chefes do alto escalão, tomamos conhecimento da corrupção avassaladora no sistema judicial, que permeia desde o guarda da esquina até grandes autoridades e possibilita, até hoje, a existência de gangues como a comandada pela família Lucchese. Vamos conhecer figuras como James (Jimmy, o Cavalheiro) Burke e Paul Vario, que foi praticamente um segundo pai para Hill. Foi Vario quem ensinou o ainda adolescente Hill a recolher apostas para jogatina proibida e cobrar o pagamento da agiotagem. Hill também aprendeu a usar cartões de crédito falsos, colocar dinheiro falsificado em circulação e cometer pequenos incêndios criminosos. Logo estaria contrabandeando cigarros, roubando caminhões de cargas, enviando carros roubados para o Haiti, subornando jogadores de basquete niversitário, fraudando corridas de cavalo e traficando drogas — algo que então a Máfia não tolerava. Sem falar no impressionante roubo a um cofre da companhia aérea Lufthansa no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, quando 6 milhões de dólares e joias foram surrupiados em conluio com um funcionário — crime que acabaria por acelerar o fim da trajetória criminosa do bando.
“Quando li o livro pela primeira vez, não consegui largá-lo. Quando dei por mim, já estava fazendo anotações, visualizando movimentos, cortes, trilha sonora. Foi então que percebi: preciso fazer este filme”, afirma Martin Scorsese na Introdução do livro. O diretor assinou o roteiro de adaptação junto com Pileggi, e o filme que contou com Ray Lyotta no papel de Hill, além de Robert De Niro no papel de Jimmy Burke e Joe Pesci interpretando Tommy DeSimone, papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
No livro, Pileggi reconta a história de vida de Hill de maneira sóbria, desapaixonada, descrevendo os detalhes e os momentos menos nobres com a mesma competência com que narra os acontecimentos dos
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