Neste primeiro volume de ficção autobiográfica (de uma trilogia que se completa com Juventude e Verão), um narrador seco e distante conta, sempre no presente, a dura experiência de deslocamento de um garoto sul-africano. Em uma sociedade baseada na violência - que por isso mesmo irradia para todas as instâncias do cotidiano -, entre negros surrados por motivos banais, professores sádicos e colegas de escola truculentos, John mantém viva, como pode, a identidade "diferente". Tarefa difícil nessa infância nada rósea que J. M. Coetzee evoca: com um pai falastrão e perdulário, uma mãe excessivamente bondosa para esse mundo hostil e uma identidade familiar opaca - os Coetzee são de origem africânder, mas falam inglês em casa -, o menino John encontra refúgio só mesmo na introspecção, e o leitor testemunha a construção de uma personalidade fechada e solitária, que é a um tempo herdeira e vítima da brutalidade circundante.
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