Uma mulher aproveita a folga de fevereiro para por em ordem a sua estante de livros. No meio da arrumacao, e surpreendida por um telefonema: a irma mais nova, que mora em outra cidade, foi internada apos mais uma tentativa de suicidio. Depois de anos de separacao, a mais velha e obrigada a rever o passado, essa caixa-preta de fraturas, angustias, segredos, recalques e escombros que, durante muito tempo, esquivou-se de inventariar. O romance A vendedora de fosforos e um mosaico perturbador da relacao entre duas irmas. Sob um eixo narrativo, a mais velha que nao e identificada por um nome proprio descreve sua viagem rumo ao encontro daquela que foi hospitalizada. Uma segunda narrativa, a guisa de memorias, ilumina os episodios vividos entre elas ate a chegada da vida adulta. Neste passado, o microcosmo e uma familia de classe media com habitos peculiares. O pai, um contador inabil, estabelece uma rotina nomade para todos, fugindo de dividas e de seu proprio passado. De tao frequentes, as mudancas de cidade inviabilizam a criacao de lacos que extrapolem o circulo familiar. A mae resigna-se numa especie muito particular de submissao, engalanada com tailleurs e sapatos de salto improvaveis para o cotidiano de uma dona de casa. E o irmao mais velho intriga fonoaudiologos com um problema incomum: e incapaz de referir-se a si proprio em primeira pessoa. Imersas nesse sistema disfuncional, as irmas estabelecem uma complexa relacao que culmina no torturante jogo de espelhos. Alteridade e amalgama, sobreposicao e jogos de sombra, comunhao e disputa. Tudo isso se mescla na torrente de fantasmas que e a vida compartilhada, base para que a autora construa uma narrativa engenhosa, rumo a um final surpreendente. A vendedora de fosforos tomou o seu titulo do conto Den lille pige med svovlstikkerne (A pequena vendedora de fosforos), de Hans Christian Andersen. Da para mudar a historia dos livros?, indaga uma das
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