Dono de profunda precisão verbal. Lucchesi não é um autor qualquer. Seu texto foge da simplicidade. mas se mantém aberto à criação. O resultado é uma mistura de prosa e poesia. numa linguagem que encanta e hipnotiza. Tradutor. ensaísta e poeta premiado. Lucchesi volta seu talento para outro gênero e se lança. pela primeira vez. ao romance com o aguardadíssimo O Dom do Crime. Lucchesi cria um delicioso narrador-autor. não identificado. que conta uma história para o futuro. Um homem do século XIX que. ao ser aconselhado pelo médico a escrever suas memórias. se lança não para a própria vida. mas sobre um crime passional. notícia no Rio de Janeiro de Machado de Assis. Esse misterioso narrador traça paralelos curiosos entre este assassinato. o julgamento que absolve o marido supostamente traído e a obra mais aclamada de Machado. Dom Casmurro. Terá o Bento de Machado qualquer coisa do real José Mariano? E Capitu teria sido inspirada em Helena. a esposa que sucumbe ao ciúme do marido? Todos os dados de ordem informativa. factual. foram longamente pesquisados e comprovados. em papel velho e fontes congêneres — tudo passou pelo crivo de Lucchesi. Mas. para além disso. o romance traz uma flutuação permanente entre literatura e documento. história e ficção. Em O Dom do Crime. real e ficcional se entrelaçam numa obra de fôlego. em que os julgamentos dificilmente encerram a verdade dos fatos. a complexidade da vida. “Precisei realizar essa dinâmica todo o tempo. de modo a que o leitor se perguntasse. como num jogo. onde começa esta e onde termina aquela”. argumenta Lucchesi.
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