"Quem controla o passado, controla o futuro." (George Orwell, 1984) Bem lembrada na frase que serve de epígrafe ao livro, a importância do passado no processo histórico que determinará o porvir de uma nação é justamente o que torna fundamental esta obra. Organizada por Edson Teles e Vladimir Safatle, O que resta da ditadura reúne uma série de ensaios que esquadrinham o legado deixado pelo regime militar na estrutura jurídica, nas práticas políticas, na literatura, na violência institucionalizada e em outras esferas da vida social brasileira. Fruto de um seminário realizado na Universidade de São Paulo (USP), em 2008, o livro reúne textos de escritores e intelectuais como Maria Rita Kehl, Jaime Ginzburg, Paulo Arantes, Ricardo Lísias e Jeanne Marie Gagnebin, que buscam analisar o que permanece de mais perverso da ditadura no país hoje. Assim, o livro possui também um caráter de resistência à lógica de negação difundida por aqueles que buscam hoje ocultar o passado recente, seja ao abrandar, amenizar ou simplesmente esquecer este período da história brasileira. Segundo Edson Teles e Vladimir Safatle, a palavra que melhor descreve esta herança indesejada é “violência” - medida não pela contagem de mortos deixados para trás, mas por meio das marcas encravadas no presente. Para os organizadores, “neste sentido, podemos dizer com toda a segurança: a ditadura brasileira foi a mais violenta que o ciclo negro latino-americano conheceu. Quando estudos demonstram que, ao contrário do que aconteceu em outros países da América Latina, as práticas de tortura em prisões brasileiras aumentaram em relação aos casos de tortura na ditadura militar; quando vemos o Brasil como o único país sul-americano onde torturadores nunca foram julgados, onde não houve justiça de transição, onde o Exército não fez um mea culpa de seus pendores golpistas; quando ouvimos sistematicamente oficiais na ativa e na reserva fazerem elogios inacreditáveis à ditadura militar; quando lembramos que 25 anos depois do fim da ditadura convivemos com o ocultamento de cadáveres daqueles que morreram nas mãos das Forças Armadas; então começamos a ver, de maneira um pouco mais clara, o que significa exatamente ‘violência’.” Ensaios e autores Militares e anistia no Brasil: um dueto desarmônico Paulo Ribeiro da Cunha Relações civil-militares: o legado autoritário da Constituição brasileira de 1988 Jorge Zaverucha “O direito constitucional passa, o direito administrativo permanece”: a persistência da estrutura administrativa de 1967 Gilberto Bercovici Direito internacional dos direitos humanos e lei de anistia: o caso brasileiro Flávia Piovesan O processo de acerto de contas e a lógica do arbítrio Glenda Mezarobba Tortura e sintoma social Maria Rita Kehl Escritas da tortura Jaime Ginzburg As ciladas do trauma: considerações sobre história e poesia nos anos 1970 Beatriz de Moraes Vieira O preço de uma reconciliação extorquida Jeanne Marie Gagnebin Brasil, a ausência significante política Tales Ab’Sáber 1964, o ano que não terminou Paulo Eduardo Arantes Do uso da violência contra o Estado ilegal Vladimir Safatle Os familiares de mortos e desaparecidos políticos e a luta por “verdade e justiça” no Brasil Janaína de Almeida Teles Entre justiça e violência: estado de exceção nas democracias do Brasil e da África do Sul Edson Teles Dez fragmentos sobre a literatura contemporânea no Brasil e na Argentina ou de como os patetas sempre adoram o discurso do poder Ricardo Lísias
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