O perfil de Domingo Sodré vem se somar a outros estudos biográficos de indivíduos que experimentaram a escravidão e depois conseguiram superá-la, como Rosa Egípcia, Chica da Silva, Caetana, Liberata etc. Retirados do anonimato, esses trajetos individuais permitem nova compreensão da sociedade brasileira oitocentista, crivada por tensões entre camadas sociais e códigos culturais distintos. Reinventando valores e práticas, africanos natos como Domingos funcionam como mediadores culturais no Brasil escravista: circulam entre o candomblé e o catolicismo, a medicina africana e a ocidental, a justiça dos pretos e a dos brancos. A condição de "feiticeiro" e adivinho confere a Domingos lugar social particular. Se, por um lado, é perseguido em razão de práticas "mágicas" consideradas perigosas, por outro, a posição de líder religioso permite-lhe barganhar algum espaço no mundo dos brancos. Tomando a trajetória de Domingos como fio condutor, e cotejando-a com outros perfis e experiências, o livro traça um mapa complexo das relações sociais do Brasil do século XIX, em que violência, perseguição policial e desqualificação social de escravos e libertos combinam-se com compadrios e protecionismos de todo o tipo. Alianças perversas que, longe de contribuírem para diminuir distâncias sociais, reforçam-nas.
Capa comum: 464 páginasEditora: Companhia das Letras; Edição: 1ª (16 de setembro de 2008)Idioma: PortuguêsISBN-10: 853591286XISBN-13: 978-8535912869Dimensões do produto: 20,6 x 13,6 x 2,8 cmPeso de envio: 689 g
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