O público de língua portuguesa tem em mãos um livro ousado. A ousadia decorre, em primeiro lugar, do propósito de enfrentar os embaraços históricos e historiográficos, as visões consolidadas do passado que, desde o século XVIII, se não antes, rondam a imaginação histórica do Ocidente – incluindo as culturas que com ele se identificam – e que fazem do paradigma romano, sobretudo de seu período final, uma espécie de meta-história, uma providência terrena que tudo fez, tudo explica e dá sentido a tudo. Em segundo lugar, o livro ousa encarar uma cronologia extensa, 600 anos, a partir de uma geografia ainda mais extensa – toda a bacia mediterrânea com seus múltiplos interiores –, de modo que somos expostos a mundos conhecidos e desconhecidos, a cidades extravagantes, como Constantinopla, Bagdá ou Toledo, e a “sertões” setentrionais – a Eurásia profunda – nos quais se ouvem mais silêncios do que vozes.
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