Neste livro, H. Bredekamp refuta o entendimento das imagens como meros duplos da linguagem, considerando-as como actos de enunciação que possuem a capacidade de reconfigurar o sensível e intervir sobre o real, produzindo efeitos concretos. Partindo do entendimento de que «a imagem é acto», de acordo com H. Lefebvre e o speech-act de J. R. Searle, convocam-se as obras que desde a Antiguidade falam na primeira pessoa, como os nomes dos signatários nas imagens da Idade Média ou o jogo complexo das inscrições nos quadros do Renascimento, até à tradição das estátuas que falam, como o Pasquino em Roma ou a obra de Niki de Saint-Phalle, Tu est moi. Cobrindo um vasto arco temporal, desde a génese da figuração no mundo pré-histórico até aos desenhos de Frank O. Gehry, propõe-se uma tipologia dos actos da imagem. Numa primeira categoria: a figura humana, o autómato e o homem-máquina, a que se associa o mito de Pigmalião, a boneca na arte do século XX, a estética futurista e o jogo das formas orgânicas. Uma segunda categoria é definida pela substituição do corpo: o procedimento do decalque, a Verónica, a fotografia, mas também as imagens infamantes, de celebração, e a iconoclastia. Por fim, a última categoria faz apelo às forças intrínsecas das imagens: o mito de Medusa, a que se junta a potência do ponto, da linha, da cor, da mancha e do desenho, e a consolidação da «imagem autónoma». Com a sua perspectiva tipológica-temática, procedendo para além das habituais periodizações e géneros (pré-história, Renascimento, modernidade... pintura, arquitectura, fotografia...), para além da própria distinção entre arte e não-arte, é a própria «imagem» que se encontra no centro desta obra. Alicerçada num profundo conhecimento da história, herdeira da Kulturwissenschaft, a ciência da cultura, que Aby Warburg inaugurou, esta obra constitui um contributo essencial para compreender as formas e clarificar os efeitos que as imagens produzem na nossa contemporaneidade.
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